Helena Almeida – Exposição «A Minha Obra é o Meu Corpo, O Meu Corpo é a Minha Obra» – Museu de Serralves, Porto. Portugal – 17 Outubro -10 Janeiro 2016
por Letícia de Melo
A capitã em habitar pinturas – e não só!
Até o momento trata-se da exposição que levou mais a fundo o conjunto historiográfico da obra de Helena Almeida (1934), não se tratando de uma retrospectiva, mas sim, de um aprofundar em pertinências cada dia mais relevantes para o cenário artístico contemporâneo.
O percurso de Helena começou com Pintura, na Faculdade de Belas-Artes de Lisboa, nos anos 60 do século XX. A pintura já salientava a potência desbravadora para além do campo pictórico, mas Helena Almeida pretendia dominar o espaço expandido. Queria entrar no quadro, fundir-se nele.
Na década seguinte segue a maré dos artistas conceptuais, mas nunca abandonará a pintura, ou o desenho, o primeiro suporte por excelência para todo o artista. Década após década a artista aproxima-se cada vez mais de outros media, como a fotografia, a instalação, somada a pintura e performance. Temos em Helena Almeida, uma espécie de reinvenção da “Obra de Arte Total” Wagneriana, mas aqui restringida ou circunscrita ao corpo da própria artista.
Voltando ao ponto inicial, a exposição de Serralves conta com a curadoria de João Ribas, Diretor Adjunto e Curador Sénior, e Marta Moreira de Almeida, curadora do Museu de Arte Contemporânea de Serralves. O compêndio nada mais é que um belo e bem construído conjunto da pesquisa sobre a obra de Helena, aliada a capacidade curatorial e aos demais departamentos da fundação em tornar isso em uma exposição única.
Conseguimos viver cada parte e o conjunto, Helena esta ali, em cada mancha, movimento, fotografia ou vídeo. Consegue alcançar públicos de todos os níveis, dos mais conhecedores da sua obra, aos que a vêm conhecem nesta exposição. Captura-os, para junto d’ela viver a experiência estética de ser artista e obra, e obra novamente: habitar.
Tudo isso está bem definido numa das suas séries mais determinantes: as “Pinturas habitadas”, de 1975/77, que funcionam como uma espécie de registo das suas (quase) performances ao se fundir com o plano do observado. Uma figura nuclear, quase uma antítese das selfie’s que hoje se multiplicam dominando o campo visual quotidiano.
A exposição de Serralves contempla a tão merecida obra da artista, que atravessa mais de quatro décadas de trabalho de meados de 1960 a 2012, sempre em sintonia com a sua época. Não caindo no discurso vazio em que muitas vezes a arte conceptual se perde: a falta de conceito. A sua busca em unir pintura em um único corpo, o próprio, pelo registo da fotografia. Temos a omnipresença de um espectador por detrás da câmara fotográfica, Artur Rosas, marido de Helena, responsável pelo controle do obturador. A museografia, de forma não cronológica expõe, sala a sala, pinturas, séries fotográficas e vídeos, construindo um rastro que a própria artista mantém em toda a sua obra. O “fio de Ariadne” é a própria artista.