Exposição ‘Provas de Contacto’do Stencil ao Digital: Processos de Transferência da Imagem – Galeria de Arte do TMG, Teatro Municipal da Guarda – 27 de Setembro – 31 Dezembro 2014
por Joana Correia Saraiva
A exposição ‘Provas de Contacto’ de José de Guimarães, inaugurada no passado dia 27 de Setembro na Galeria de Arte do TMG, Teatro Municipal da Guarda, reflete uma vida artística repleta de viagens e vivências pelo globo, com um caráter particular na composição de cada imagem, de cada obra. José de Guimarães, pseudónimo eleito por José Maria Fernandes Marques, em homenagem à cidade de onde é natural, Guimarães, possui um abastado percurso artístico, com inúmeros prémios, nacionais e internacionais atribuídos e obra presente nos vários continentes. Alguns dos prémios recebidos e que merecem ser referidos, sem desprimor para os restantes, contudo estes tendo sido os primeiros, marcaram o início de uma carreira atualmente consolidada, são o Prémio de Gravura no Salão de Arte Moderna da Cidade de Luanda em 1968, Medalha de Bronze do Prix Europe de Peinture de la Ville de Ostende em 1980. Com licenciatura em Engenharia, tendo-se também inscrito posteriormente em Arquitetura na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, foi nas artes plásticas que sobressaiu, unindo sobretudo a arte aos estudos de etnografia africana. Com cooperação de Gil Teixeira Lopes no desenho e de Teresa de Sousa na pintura, adquiriu o suporte necessário, aliado claramente à sua própria aptidão para imaginar e criar, desenvolvendo assim um código imagético único e distintivo de qualquer outra composição realizada pelos artistas seus contemporâneos. Com organização conjunta entre o Teatro Municipal da Guarda e o CIAJG, Centro Internacional de Arte José de Guimarães e com curadoria de Nuno Faria, curador responsável do CIAJG, a exposição apresenta técnicas de produção de imagem por transferências, entre a gravura e o stencil, tão próprias do artista. Todo o conjunto apresentado possui uma linha comum, condutora, a colocação de uma frase, de um número, ou letras soltas, em cada peça, em todas as peças. Nas imagens retratadas predominam as influências africanas com interpretação de mulheres, como é exemplo a série Negreiros, com a técnica monotípica, tinta de impressão aquosa e vidro moído sobre papel. Num total de dezassete peças, esta série representa figuras bidimensionais monocromáticas, despidas e de perfil. A linha condutora referida é bem visível nesta série, onde as imagens de números se sobrepõem às figuras humanas representadas, num negativo cromático. Uma outra série quebra inteiramente o padrão ritmado da série anterior, com composições coloridas e recorrendo a uma aparente colagem de formas articuladas entre si, representante de membros humanos ou de temas de cariz político, transmitindo um completo domínio do artista na prática da gravura, lembrando algumas obras de Picasso. Algumas das obras a destacar são sem dúvida a Gioconda Negra, Mulher ao Espelho, o Grande Nu e o 1º Maio III, todos criadas entre 1973 e 1979. Todas elas realizadas com a técnica serigrafia. A série seguinte é marcada por obras experimentais e de cronologia anterior, da década de 60, e com a técnica de xilogravura, com é exemplo a peça Múmero8, de 1968. Sobre cavaletes e protegidos com um painel de vidro, para evitar o toque dos mais curiosos, estão dispostos inúmeros stencil, utilizados da realização de tantas destas obras agora aqui apresentadas, material de trabalho que, ao longo dos anos, ao longo das décadas, acompanharam o artista, fizeram dele e da sua obra o que ela representa hoje para um visitante, para cada visitante, para a história da arte de uma país, este país.