José Espinho. Vida e obra – MUDE – Museu do Design e da Moda, Lisboa – 10 de dezembro 2015 a 6 de maio 2016
por Carlota Pignatelli Garcia
O nome MUDE como conjugação do verbo mudar, mostra-se, a cada visita, o mais indicado para o Museu do Design e da Moda. Porque o que é o design, senão uma arte que nasce da constante necessidade de adaptação a mudanças? É de mudanças que trata a exposição temporária sobre a vida e obra de José Espinho, um dos pioneiros do design em Portugal. De tal forma o é que, durante o tempo em que exerceu a sua atividade, esta era uma profissão que nem ele nem os seus contemporâneos sabiam denominar. José Espinho considerava-se e apresentava-se simplesmente como “fazedor de obra”.
De início, a exposição aborda a vida privada do designer, através de álbuns, fotografias, objetos pessoais e citações escritas de familiares, amigos e colaboradores, num retrato extremamente bem conseguido do homem por trás da obra. As citações vão-se mantendo ao longo da exposição, enquadrando as peças na visão do seu criador, tanto numa perspetiva profissional como numa perspetiva pessoal, tornando estas duas vertentes indissociáveis. É dado grande destaque às suas amizades com outros importantes nomes do design, da industria e da arquitetura da época (entre eles Daciano da Costa, António Garcia, José Sousa Braga, Keil do Amaral) de forma a contextualizar temporal, social e artisticamente, tanto as obras presentes como a imagem com que o visitante fica do autor.
De seguida, as peças de mobiliário encontram-se dispostas cronologicamente, divididas entre as décadas de quarenta, cinquenta, sessenta e setenta do século XX. Estas são acompanhadas por uma extensa documentação iconográfica indispensável na sua função de representar espaços interiores projetados por José Espinho.
Somos levados numa viagem através da obra do designer e da evolução de gostos da época em que viveu e trabalhou. Esta evolução não é apenas alusiva a Portugal, visto que Espinho fazia quatro viagens anuais a exposições no estrangeiro, trazendo influências para o seu trabalho, num grande contributo a um país fechado ao exterior pelo Estado Novo.
Do neorústico dos anos 1940 – caracterizado pela robustez e os icónicos corações – passamos à elegância do estilo Moderno da década de cinquenta e, depois, à estética industrial de sessenta. Nesta última, é dado destaque à sua parceria com a Olaio e consequente produção em série, tanto para o mercado como para uso público.
Foi também nesta época que, graças ao crescente turismo que afluía a Portugal, bem como o crescimento económico de uma nova burguesia, José espinho projetou interiores de hotéis (Hotel Alvor, Hotel Mundial, Hotel Tivoli, Hotel Ritz, Hotel Trópico Luanda, Hotel Estoril-Sol), espaços culturais (Teatro Micaelense, Cine-Teatro Monumental) e espaços de lazer (Casino Estoril, pastelaria Mexicana, cervejaria Solmar).
O contributo indispensável dos registos fotográficos destes espaços para a exposição vai muito para além do facto de alguns deles já terem sido demolidos. Mais do que revelar uma imagem mais completa da obra de José Espinho, transportam-nos para os espaços próprios de uma fatia da sociedade de uma época, para a elegância e simples sofisticação que era ideal neste período. No entanto, a intemporalidade por vezes impõe-se e os menos atentos poderão, depois de assistirem a esta mostra tão representativa de um autor e da sua contemporaneidade, reparar nos seus vestígios sobreviventes espalhados por Lisboa.