Guilherme Parente – Água de Transcendência

Guilherme Parente – Exposição «Águas Régias» – Azeitão: Galeria Via Idea – 20 Junho – 15 Julho 2015 – Água de Transcendencia
por Raquel Farelo

 A exposição “Águas Régias” realizou-se no dia 20 de Junho às 18h na Galeria de Arte Contemporânea, VIA IDEA, que apresentou uma exposição individual do artista Guilherme Parente (Lisboa, 1940).

O Artista Guilherme Parente estudou pintura com o Mestre Roberto de Araújo, na Sociedade Nacional de Belas Artes, pessoa que muito influenciou o seu trabalho. Frequentou curso de gravura na Cooperativa Gravura e fez parte de uma geração de artistas que desde a década de 50, procuraram formação no estrangeiro.

Em 1968 Guilherme Parente ruma para Londres, onde permanece até 1970. Admitido pela Slade School of Fine Art como bolseiro da Gulbenkian. Cinco anos após o regresso é galardoado com o prémio Malhoa e mais tarde em 1989 com o prémio de pintura da Sociedade Nacional de Belas Artes, sendo desde então um artista com mérito reconhecido. Hoje é considerado um dos artistas Portugueses mais consagrados internacionalmente, expondo individualmente, em Portugal, na Bélgica, Alemanha, França, Inglaterra, Japão e nos Estados Unidos.
Está representado no Ministério da Cultura, na Fundação Nacional Soares dos Reis, no Museu Nacional de Arte Contemporânea, na Fundação Calouste Gulbenkian e no Museu Machado de Castro.

Embora seja de certo modo uma “estrela”, da Arte Contemporânea Portuguesa, Guilherme é uma pessoa muito afável e doce, como as suas pinturas e sem qualquer vaidade narcisista.

Guilherme Parente conheceu a Galeria VIA IDEA através do seu velho amigo e colega da Sociedade de Belas Artes, António Osório de Castro que fez a ponte entre o artista e a Galeria.

Após o convite da Galeria VIA IDEA, Guilherme Parente propôs uma exposição mista, com pinturas e aguarelas, mostrando assim duas técnicas e materiais. E subsequentemente a variação preços, permitindo uma maior amplitude de público na aquisição das obras.

 A exposição inaugurou na véspera do solstício de Verão às 18h, um Sábado quente com temperaturas de 34ª, onde a praia foi o local eleito dos Portugueses nesse dia, influenciando a chegada atempada de muitos ao evento, os convidados só começaram a chegar por volta das 19h, mas rapidamente o espaço se compôs com artistas, amigos, curiosos e críticos.

Guilherme Parente foi descrito por Augusto França como um “pintor lírico e fora do tempo”.

Lírico com certeza, pelo universo poético da sua pintura e fora do tempo, não porque tenha nascido aquém do tempo, ou para além deste mas porque, o tempo é um conceito desconhecido e inexistente neste mundo das ideias imaginadas.

Expôs, na VIA IDEA, uma tela enorme de 2.10 X140 sem engradamento com o título: “Por mares nunca antes navegados” e uma outra “a travessia “, sobre madeira de pau-santo com a figura de um barco, com um elemento tridimensional colado: “escantilhão” incorporando na pintura incorporando a ondulação da bandeira presa na vela, esta temática não é mágoa das atlântidas perdidas, ou do saudosismo dos Descobrimentos que anima, mas a esperança, ou desejo de uma recriação da sua expressão.

O símbolo é usado como uma linguagem com dupla intencionalidade logo necessita de ser interpretado, como o barco, símbolo da travessia da vida e da morte. Representa a viagem cumprida ao longo da vida, ou a travessia que leva a alma para um outro lugar ou relacionar-se à travessia em direção à vida, ao nascimento.

A sua obra revela um entusiasmo intrínseco e natural na conceção da viagem da vida, onde através das suas pinturas somos transportados para uma outra realidade, doce, terna e suave e por vezes melancólica.

Guilherme Parente usa as cores vivas, vibrantes e puras, existindo sempre uma luz quente e reconfortante nas suas telas. Como já o tinha dito José Augusto França, “Na pintura – pintura de Guilherme Parente, jamais faz mau tempo, por impossibilidade metafisica.”

Nas aguarelas apresentadas notamos uma leveza do gesto que se construiu desde a sua infância, quando habitualmente desenhava figuras de chapéu-de-chuva que a sua mãe guardou religiosamente. Ele é um homem com espirito de criança, por isso não admira que seja um apaixonado pela arte das mesmas, capazes de criar livre de modelos.

No próprio trabalho ele usa uma simplicidade semelhante à usada por elas, empregando cores intensas inspiradas por uma viagem ou por um sonho recriando um mundo através da imaginação

A sua sensibilidade, intuição e devaneio voltado à infância, convergem num mundo onírico e simbólico, criando figuras e objetos do fantástico que se perpetuam na imaginação do próprio e na sua dimensão criativa.

Seu professor e Mestre Cid dos Santos, conjuntamente com Anthony Gross, reconheceram nele um “artista sensível, dotado de imaginação”.

Estamos perante um artista que viaja do sonho para a matéria. Usa o seu lirismo para narrar um mundo simbólico, onde os objetos e figuras, são muito mais que meras representações gráficas. Elas representam signos e mitos que revelam um pensamento profundo de Ser.

É uma pintura onde o sonho é tornado visível, onde não existe tempo porque as emoções, afetos e imaginação não se quantificam, só se sentem.

As suas pinturas comunicam intimamente com observador, na medida em cada um constrói a sua história, partindo das imagens mais ou menos simplificadas que a composição apresenta mas quando percecionadas de modo invulgar, podem ser reveladoras conduzindo a um estado de liberdade, como quando sonhamos acordados …

Inspirado pelo elixir da vida, Guilherme Parente pinta, “cá é lá”, sendo um alquimista no ateliê, transformando a matéria com que pinta numa arte reveladora do fantástico mistério da vida.

O nome que intitula a exposição é ambíguo, se por um lado tem uma referência direta às águas reais, à memória histórica de um Povo de navegadores e descobridores, onde eramos o Povo Rei do Mar, por outro podemos pensar que a utilização da folha de ouro nas suas pinturas confere uma analogia à, “Água-régia”, (líquido capaz de dissolver metais nobres) porque como ela, a sua pintura também dissolve o observador na sua narrativa simbólica e transforma-o, alcançando a verdade e curando-o dos males da vida.

A pintura Guilherme Parente agradece à vida, à obra de Deus e um dia… uma das suas telas se transformará na “ Grande Obra “,obtendo o elixir da imortalidade a água de transcendência.